quinta-feira, 21 de abril de 2011

REX Delirium

Não deixa de ser comum, se acontece entre os doentes mentais o delírio real, de realeza, ou seja, sentem-se como próprios reis, deuses. Como então um doente mental pode se sentir como um rei? Em que circunstâncias ou situações históricas o rei foi associado à loucura ou doença mental? Se um rei se associa à doença mental, que tipo de características foi suficiente para lhes associar? Neste caso, analisaremos o tabu.
Ao longo da Revolução política, na França do século XVIII a monarquia foi abolida e o primeiro monstro moral, o primeiro criminoso político foi o rei, segundo Michel Foucault. Estes ‘criminosos’, que aliavam sua violência à articulação das massas, tornaram-se o personagem principal do internamento psiquiátrico que culminou no século XIX.
Um louco ou doente mental pode se sentir a encarnação de um rei, após o período da hegemonia republicana e democrática, ou seja, após a queda da monarquia como regime político dominante. Jesus Cristo é um rei, pelo menos obteve esse título e foi reconhecido como rei dos judeus. Sabe-se que um rei possui um caráter muito debatido em psicologia, principalmente em psicanálise freudiana: o ‘tabu’. Define-se o tabu por sua acepção paradoxal – sagrado e profano. Cristo é um Deus que caminha entre o povo, que lidava com as pessoas mais miseráveis e também entre os doutores e os reis, conforme Slavoj Zizek. Dentre os diversos reis que incorporam o inconsciente dos loucos (doentes mentais), Cristo-rei é um dos mais notáveis. A oscilação entre sagrado e misterioso, o consagrado e o perigoso é muito nítida nos livros bíblicos sobre Cristo, que demonstra a magnitude deste rei por seu modo de vida simples.
Acontece que um rei pode ser definido não apenas por e através das restrições ou tabus, mas principalmente por sua herança genética, por suas características hereditárias. Afinal, não é considerado rei de um povo, Jesus Cristo, como rei dos Judeus? 

Dentre todos os indivíduos que sofrem de uma afecção mental (desatino, alienação, loucura, doença mental, etc.), algumas podem ser causadas também por aquilo que se denomina inconsciente gênico, como afirmava Szondi, de acordo com Deleuze e Guattari em O Anti-Édipo.
Portanto, se os doentes mentais reencarnam reis isto ocorre por pelo menos três matizes: por que os reis foram excluídos por motivos políticos na Europa a partir do século XVII; por que os reis sofreram restrições de tabus como os doentes; e, finalmente, por serem frutos de linhagens específicas ou de inconscientes gênicos.